Outro fato que merece destaque, é a homenagem prestada pelos alemães a três soldados do ONZE, em missão de patrulha, quando se depararam com uma Companhia do Exército Alemão, com cerca de 100 homens, e receberam ordem para se renderem. Aqueles pracinhas atiraram-se ao chão e abriram fogo contra os inimigos, até acabar a munição. Não satisfeitos, armaram suas baionetas e avançaram contra o inimigo, sendo obviamente, mortos por eles. Como reconhecimento à bravura e à coragem daqueles soldados, os alemães os enterraram em covas rasas e, junto às sepulturas, colocaram uma tosca CRUZ com a inscrição "DREI BRASILIANISCHEN HELDEN" (Três Heróis Brasileiros). Desconhece-se homenagem como esta, feita pelo alemão ao inimigo. Em homenagem a eles: ARLINDO LÚCIO DA SILVA, GERALDO BAETA DA CRUZ E GERALDO RODRIGUES DE SOUZA, existe no pátio de formatura do Batalhão um monumento reverenciando.
Mas
afinal, quem são eles? Porque mereceram tão grandiosa
homenagem? O que fizeram para que seus nomes fossem eternizados?...
ARLINDO LÚCIO
DA SILVA, GERALDO RODRIGUES DE SOUZA e GERALDO BAÊTA DA
CRUZ foram três soldados que pertenceram ao 11.º
Regimento de Infantaria Expedicionário e que foram, assim
como muitos brasileiros, lutar nos campos de batalha gelados da
Itália, durante a 2ª Guerra Mundial.
O primeiro, ARLINDO LÚCIO DA SILVA, nasceu nesta cidade, em
12 de fevereiro de 1920. Era filho de Maria Cipriana de Jesus
e de João Olímpio da Silva. Pobre moço criado
sem os cuidados do pai, pois este era doente mental, Arlindo fora
internado na "Escola de Preservação de Menores
Padre Sacramento". Nela terminou o curso primário,
em 1934, deixando a escola a pedido de sua mãe, com a idade
de 15 anos. Depois foi trabalhar como servente de pedreiro na
Companhia Construtora Luiz Bacarini.
Como bom cidadão
e no incontido desejo de servir à Pátria, e com
o consentimento materno, alistou-se, voluntariamente, nas fileiras
do Exército. Foi um verdadeiro soldado. De uma obediência
cega às leis militares e de uma disciplina exemplar, razão
porque depois de 10 meses de serviço militar, recebeu,
também, a sua caderneta isenta de qualquer observação
que desabonasse a sua conduta.
Tendo falecido
seu pai, depois de 20 ( vinte ) anos de cruel enfermidade, 6 (seis) dos quais ele passou no leito, Arlindo, numa idade em que
tudo são ilusões, na época mais encantadora
da vida, achou-se na obrigação de desempenhar o
importante papel de chefe de família, pois teria que prover
o sustento de sua mãe e de seus quatro irmãos menores.
Em 2 de fevereiro
de 1940, empregou-se na Prefeitura, entregando todos os seus vencimentos
à sua mãe. Nesta nova fase de sua vida ele foi o
mais dedicado dos filhos e o irmão mais extremoso. Em 8
de dezembro de 1942, a Pátria lembrou-se de convocar aquele
seu valoroso filho, que tinha jurado defendê-la a todo custo.
Arlindo atendeu, pressuroso, o chamado, deixando o seu trabalho
para ingressar no Exército, ficando na 1ª Cia Fzo.
Por ser arrimo
de família, a sua incorporação foi adiada
por tempo indeterminado. Era destino seu, morrer como soldado,
pois decorridos 5 (cinco) meses, isto é, em 20 de maio
de 1943, foi novamente incorporado na Força Expedicionária
Brasileira. Daí em diante sua vida foi inteiramente voltada
ao serviço da Pátria, em prol da qual derramaria
o seu sangue.
O autor do livro
"De São João del-Rei ao Vale do Pó",
o Ten R/1 Gentil Palhares, que conviveu de perto com o Sd Arlindo,
desde que ele prestara seu serviço militar na 2ª Cia
Fzo, do 11º R.I., então comandada pelo Capitão
João Manoel de Faria Filho e de onde saíra reservista.
Era um soldado retraído, de pouca conversa e gestos humildes,
o protótipo do moço pacato, sossegado e bom, respeitador
dos regulamentos.
Arlindo Lúcio
andava sempre só e a sua conduta, no quartel ou na rua,
não parecia de um moço de pouco mais de 20 (vinte) anos. Quando os outros meninos da sua idade jogavam o futebol
nas ruas de São João del-Rei, iam ao cinema ou corriam
de bicicleta, o futuro pracinha, sem infância, podemos dizer,
já empunhava a enxada, no amanho da terra do Patronato,
que em boa hora o acolheu, tornando-o um cidadão digno
da sociedade e da Pátria.
Convocado para a guerra,
embora arrimo de família, não murmurou um queixume
contra as leis do país, submetendo-se ao chamamento à
caserna, habituado que era a obedecer sempre. Na farda, sujeito
à disciplina, jamais protestava, jamais se referia desrespeitosamente
aos regulamentos e às atitudes dos chefes; é que
ele, pelo sofrimento, amoldara seu espírito, plasmara-o
para todas as contingências da vida e tornara-se um cidadão
capaz de resistir às adversidades, às surpresas
que lhe surgissem. Convocado para o serviço militar, reincorporado
nas fileiras do Exército, esse espírito extraordinário
só poderia, na guerra, frente ao inimigo, tornar-se um
Herói!
Aos 5 de
março de 1944, seguiu para o Rio de Janeiro. A semana do
ano findo, ele veio passar junto aos seus. Com uma coragem que
não o abandonou, nem nos campos de batalha, ele falava
entusiasticamente na sua próxima ida para a Itália,
onde a FEB, lutando ombro a ombro com os nossos aliados, iria
contribuir, grandemente, para exterminar as forças nazi-facistas
que devastava a Europa.
Aos 22
de setembro de 1944, deixou o seu amado país rumo aos campos
de batalha, chegando em Nápoles, no dia 8 de outubro. A
carta de despedida que ele escreveu à sua mãe é
um atestado de sua coragem, do seu entusiasmo e do seu grande
amor pela Pátria. Lá no "front" italiano
nas horas que cessavam o ribombar dos canhões, o matraquear
das metralhadoras e o roncar das fortalezas voadoras, Arlindo
escrevia longas cartas à sua genitora, irmãos, parentes
e amigos. Cartas repassadas de ternura filial e fraterna e impregnadas
de patriotismo, de resignação e de esperança.
Em combate, Arlindo,
acostumado à vida dura que tinha desde então, sobressaía-se
dos demais, sendo merecedor de elogios, como o publicado em suas
alterações dado pelo Comandante do Batalhão,
nos seguintes termos: "O Soldado Arlindo Lúcio da
Silva, componente destacado do reconhecimento ao Ponto 759, cumpriu
a missão com entusiasmo e destemor". No dia 19 de
abril de 1945, foi publicado seu desaparecimento em ação,
durante os ataques realizados nos dias 14 e 15 do mês corrente,
a Montese.
Os outros dois
soldados, GERALDO RODRIGUES DE SOUZA e GERALDO BAÊTA
DA CRUZ, pouco se sabe deles. Os
dois companheiros do sanjoanense heróico deviam ter sido,
em vida, semelhantes a ele; naturalmente dois moços amantes
do trabalho, dois cidadãos que, como Arlindo Lúcio,
não tiveram infância...O Soldado Geraldo
Rodrigues de Souza, nasceu em Rio Preto (Sta Bárbara
do Monte Verde/MG), em 1919. Pertenceu à Companhia de
Comando do III Batalhão do 11.º RIE e era filho de
Josino Rodrigues de Souza e de Maria Joana de Jesus.
Já o Soldado
Geraldo Baêta, nasceu em 21 Jul 1916, na pequena
cidade mineira de João Ribeiro. Era filho de Antônio
José da Cruz e de Maria da Conceição da Cruz.
Geraldo Baêta era enfermeiro cirúrgico, pertencente
ao Destacamento de Saúde. Tinha a nobre missão de
amparar aqueles que tombavam na área de sacrifício,
prestando-lhes o apoio médico imediato.
Foram três
vidas que, por um acaso do destino, se cruzaram no dia 22 Set
1944, a bordo do transporte Norte Americano "Gen. M.L. Meigs"
rumo à distante Itália, onde já se encontrava
o 1.º Escalão da Força Expedicionária
Brasileira. Chegaram ao Porto de Nápoles, às 07:30
horas do dia 6 Out 1944, de onde partiram, no dia 9, para o Porto
de Livorno. Três dias depois estavam desembarcando e seguindo
para a chamada "Staging Area", localizado a oeste da
cidade de Pisa (Vila Rosare). No dia 1.º de dezembro de
1944, o 11.º RIE entrava em linha, sendo considerado em combate.
Lá
estavam, três filhos do Brasil, três brasileiros simples,
comuns, de vida sofrida e que estavam dispostos a tudo para o
sacrifício maior, que ainda estava por vir.
Foi então
que chegou o dia 14 Abr 1945, dia do ataque a Montese, o combate
que viria a ser, o mais sangrento que a FEB participaria. Dia
inesquecível para muitos que ainda vivem. E lá estavam
eles, Arlindo Lúcio, Geraldo Rodrigues e Geraldo Baêta.
Três soldados do Brasil unidos pelo destino. Três
glórias nacionais! TRÊS QUE PARECIAM CEM!
Durante
o ataque a Montese, o pelotão, ao qual faziam parte ARLINDO,
GERALDO e BAÊTA, foi detido por violenta barragem de morteiros
inimigos, enquanto uma metralhadora alemã hostilizava violentamente
o seu flanco esquerdo, obrigando os atacantes a se manterem colados
ao solo. Não tendo mais possibilidades de sair do local,
nossos três heróis ficaram desgarrados de sua fração.
Mas não temeram! Imediatamente, o Soldado ARLINDO, atirador
de fuzil automático, localiza a resistência inimiga
e num gesto de grande bravura, gesto esse de um menino acostumado
a enfrentar as dificuldades da vida que levara até então,
levanta-se, localiza a resistência inimiga e sobre ela despeja
seis carregadores da sua arma, obrigando-a a calar-se.
Geraldo
e Baêta não param de atirar. Eram três pracinhas
contra uma tropa de grande número. Tropa essa que pensava
estar enfrentando uma outra de efetivo igual ou superior ao seu,
pois os intrépidos brasileiros não paravam de atirar.
Atiraram até a munição acabar. ARLINDO é
ferido mortalmente por um franco atirador inimigo, enquanto GERALDO
é atingido por um cruel estilhaço e BAÊTA
recebe um tiro certeiro...
De repente,
o silêncio se fez presente...
E
sobre o solo lá estavam três corpos empunhando seus
fuzis... Fuzis que estavam com as baionetas caladas, demonstrando
que nossos heróis partiram para o assalto, mesmo sabendo
que iam encontrar a morte breve...Morte que os fez descansarem
da vida difícil e dura que sempre tiveram lá no
Brasil...
O comandante
alemão, observando os três corpos já sem vida,
reconheceu neles o sacrifício... Nunca vira tamanha demonstração
de coragem! E, deixando seu orgulho prussiano de lado, mandou
que seus homens cavassem três covas rasas e, pegando alguns
pedaços de madeira, fez uma cruz e nela escreveu: "
DREI BRASILIANISCHE HELDEN ", que em português quer
dizer: "TRÊS HERÓIS BRASILEIROS".
Após
o ataque a Montese, na conferência do efetivo, o Pelotão
dos três soldados imolados estava incompleto...Muitas baixas...
Muitos feridos... Muitos desaparecidos... E entre esses desaparecidos
estavam eles... enterrados pelo inimigo em três covas rasas...
ARLINDO,
em sua última carta que escreveu na véspera de sua
morte, nos dizia que em breve ele estaria de regresso para rever
o seu querido Brasil, pois sentia próxima a vitória
das armas da justiça e da liberdade. Deus achou melhor
chamá-los ao céu, nossa verdadeira Pátria,
onde não há tristezas, onde a dor não pode
entrar... |