Legião da Infantaria/Brasília - Legião Gen Silva Néto

 
...principal/ FEB  


Regimento Tiradentes, o Regimento de São João
Esta seção está escrita com letras vermelhas, diferentemente das demais, com o objetivo de lembrar a todos nós o sangue derramado pelos nossos "pracinhas" durante a 2.ª GM.

 

A participação do ONZE na 2.ª Guerra Mundial foi, sem dúvida, o capítulo mais importante em sua rica história. Há mais de 70 anos, nos campos gelados da Itália, apesar de sua participação ativa em todas as campanhas da 1.ª DIE da FEB, queremos destacar a conquista da localidade de MONTESE, situada em terreno montanhoso e fortemente defendida pelos alemães como último baluarte a barrar o avanço das tropas aliadas na direção do Vale do Pó.
        No dia 14 de abril de 1945, o Maciço de MONTESE transformou-se no palco da mais árdua e sangrenta batalha das armas brasileiras na Itália, no dizer do próprio Cmt da FEB Marechal MASCARENHAS DE MORAES.
        Tendo o ONZE como esforço principal do ataque, sob o firme comando do Cel DELMIRO PEREIRA DE ANDRADE, combatendo em densos campos de minas e sob o fogo cerrado das temíveis metralhadoras alemãs, o 11.º RI consagrou-se para sempre ao conquistar, heroicamente, MONTESE.
        Em homenagem à Gloriosa Conquista de Montese, foi erquido em seu pátio de formatura um muro sobre a mesma.
        A todos os integrantes do 11.º RI Expedicionário, o eterno reconhecimentos dos combatentes de todo Exército Brasileiro.


        A figura do 2.º Sgt MAX WOLFF FILHO, por exemplo, grande herói da FEB e tido como o "Rei dos Patrulheiros", avulta-se como incontestável exemplo do verdadeiro soldado. Integrou a Companhia de Comando do 1.º Batalhão.
       No dizer do Coronel ADHEMAR RIVERMAR DE ALMEIDA, em seu livro - "MONTESE: Marco glorioso de uma trajetória" (BiBliEx – 1995) - as façanhas de autêntico herói do Sgt MAX WOLFF eram citadas e proclamadas, não só nas lacônicas citações e partes do combate mas, também, na imprensa nacional e estrangeira.
       Merecia consagradoras reportagens de vários correspondentes de guerra, exaltando a sua energia moral e o seu heroísmo, resultante do ato do dever bem cumprido, da responsabilidade, da consciência do que tinha que ser feito. Morreu do dia 12 Abr 1945, ceifado por uma metralhadora alemã, quando comandava, voluntariamente como sempre, mais uma patrulha, que antecedeu o combate de MONTESE.


        Outro fato que merece destaque, é a homenagem prestada pelos alemães a três soldados do ONZE, em missão de patrulha, quando se depararam com uma Companhia do Exército Alemão, com cerca de 100 homens, e receberam ordem para se renderem. Aqueles pracinhas atiraram-se ao chão e abriram fogo contra os inimigos, até acabar a munição. Não satisfeitos, armaram suas baionetas e avançaram contra o inimigo, sendo obviamente, mortos por eles. Como reconhecimento à bravura e à coragem daqueles soldados, os alemães os enterraram em covas rasas e, junto às sepulturas, colocaram uma tosca CRUZ com a inscrição "DREI BRASILIANISCHEN HELDEN" (Três Heróis Brasileiros). Desconhece-se homenagem como esta, feita pelo alemão ao inimigo. Em homenagem a eles: ARLINDO LÚCIO DA SILVA, GERALDO BAETA DA CRUZ E GERALDO RODRIGUES DE SOUZA, existe no pátio de formatura do Batalhão um monumento reverenciando.
        Mas afinal, quem são eles? Porque mereceram tão grandiosa homenagem? O que fizeram para que seus nomes fossem eternizados?...
        ARLINDO LÚCIO DA SILVA, GERALDO RODRIGUES DE SOUZA e GERALDO BAÊTA DA CRUZ foram três soldados que pertenceram ao 11.º Regimento de Infantaria Expedicionário e que foram, assim como muitos brasileiros, lutar nos campos de batalha gelados da Itália, durante a 2ª Guerra Mundial.
        O primeiro, ARLINDO LÚCIO DA SILVA, nasceu nesta cidade, em 12 de fevereiro de 1920. Era filho de Maria Cipriana de Jesus e de João Olímpio da Silva. Pobre moço criado sem os cuidados do pai, pois este era doente mental, Arlindo fora internado na "Escola de Preservação de Menores Padre Sacramento". Nela terminou o curso primário, em 1934, deixando a escola a pedido de sua mãe, com a idade de 15 anos. Depois foi trabalhar como servente de pedreiro na Companhia Construtora Luiz Bacarini.
        Como bom cidadão e no incontido desejo de servir à Pátria, e com o consentimento materno, alistou-se, voluntariamente, nas fileiras do Exército. Foi um verdadeiro soldado. De uma obediência cega às leis militares e de uma disciplina exemplar, razão porque depois de 10 meses de serviço militar, recebeu, também, a sua caderneta isenta de qualquer observação que desabonasse a sua conduta.
         Tendo falecido seu pai, depois de 20 ( vinte ) anos de cruel enfermidade, 6 (seis) dos quais ele passou no leito, Arlindo, numa idade em que tudo são ilusões, na época mais encantadora da vida, achou-se na obrigação de desempenhar o importante papel de chefe de família, pois teria que prover o sustento de sua mãe e de seus quatro irmãos menores.
         Em 2 de fevereiro de 1940, empregou-se na Prefeitura, entregando todos os seus vencimentos à sua mãe. Nesta nova fase de sua vida ele foi o mais dedicado dos filhos e o irmão mais extremoso. Em 8 de dezembro de 1942, a Pátria lembrou-se de convocar aquele seu valoroso filho, que tinha jurado defendê-la a todo custo. Arlindo atendeu, pressuroso, o chamado, deixando o seu trabalho para ingressar no Exército, ficando na 1ª Cia Fzo.
         Por ser arrimo de família, a sua incorporação foi adiada por tempo indeterminado. Era destino seu, morrer como soldado, pois decorridos 5 (cinco) meses, isto é, em 20 de maio de 1943, foi novamente incorporado na Força Expedicionária Brasileira. Daí em diante sua vida foi inteiramente voltada ao serviço da Pátria, em prol da qual derramaria o seu sangue.
         O autor do livro "De São João del-Rei ao Vale do Pó", o Ten R/1 Gentil Palhares, que conviveu de perto com o Sd Arlindo, desde que ele prestara seu serviço militar na 2ª Cia Fzo, do 11º R.I., então comandada pelo Capitão João Manoel de Faria Filho e de onde saíra reservista. Era um soldado retraído, de pouca conversa e gestos humildes, o protótipo do moço pacato, sossegado e bom, respeitador dos regulamentos.
         Arlindo Lúcio andava sempre só e a sua conduta, no quartel ou na rua, não parecia de um moço de pouco mais de 20 (vinte) anos. Quando os outros meninos da sua idade jogavam o futebol nas ruas de São João del-Rei, iam ao cinema ou corriam de bicicleta, o futuro pracinha, sem infância, podemos dizer, já empunhava a enxada, no amanho da terra do Patronato, que em boa hora o acolheu, tornando-o um cidadão digno da sociedade e da Pátria.
        Convocado para a guerra, embora arrimo de família, não murmurou um queixume contra as leis do país, submetendo-se ao chamamento à caserna, habituado que era a obedecer sempre. Na farda, sujeito à disciplina, jamais protestava, jamais se referia desrespeitosamente aos regulamentos e às atitudes dos chefes; é que ele, pelo sofrimento, amoldara seu espírito, plasmara-o para todas as contingências da vida e tornara-se um cidadão capaz de resistir às adversidades, às surpresas que lhe surgissem. Convocado para o serviço militar, reincorporado nas fileiras do Exército, esse espírito extraordinário só poderia, na guerra, frente ao inimigo, tornar-se um Herói!
          Aos 5 de março de 1944, seguiu para o Rio de Janeiro. A semana do ano findo, ele veio passar junto aos seus. Com uma coragem que não o abandonou, nem nos campos de batalha, ele falava entusiasticamente na sua próxima ida para a Itália, onde a FEB, lutando ombro a ombro com os nossos aliados, iria contribuir, grandemente, para exterminar as forças nazi-facistas que devastava a Europa.
          Aos 22 de setembro de 1944, deixou o seu amado país rumo aos campos de batalha, chegando em Nápoles, no dia 8 de outubro. A carta de despedida que ele escreveu à sua mãe é um atestado de sua coragem, do seu entusiasmo e do seu grande amor pela Pátria. Lá no "front" italiano nas horas que cessavam o ribombar dos canhões, o matraquear das metralhadoras e o roncar das fortalezas voadoras, Arlindo escrevia longas cartas à sua genitora, irmãos, parentes e amigos. Cartas repassadas de ternura filial e fraterna e impregnadas de patriotismo, de resignação e de esperança.
         Em combate, Arlindo, acostumado à vida dura que tinha desde então, sobressaía-se dos demais, sendo merecedor de elogios, como o publicado em suas alterações dado pelo Comandante do Batalhão, nos seguintes termos: "O Soldado Arlindo Lúcio da Silva, componente destacado do reconhecimento ao Ponto 759, cumpriu a missão com entusiasmo e destemor". No dia 19 de abril de 1945, foi publicado seu desaparecimento em ação, durante os ataques realizados nos dias 14 e 15 do mês corrente, a Montese.

         Os outros dois soldados, GERALDO RODRIGUES DE SOUZA e GERALDO BAÊTA DA CRUZ, pouco se sabe deles. Os dois companheiros do sanjoanense heróico deviam ter sido, em vida, semelhantes a ele; naturalmente dois moços amantes do trabalho, dois cidadãos que, como Arlindo Lúcio, não tiveram infância...O Soldado Geraldo Rodrigues de Souza, nasceu em Rio Preto (Sta Bárbara do Monte Verde/MG), em 1919. Pertenceu à Companhia de Comando do III Batalhão do 11.º RIE e era filho de Josino Rodrigues de Souza e de Maria Joana de Jesus.
         Já o Soldado Geraldo Baêta, nasceu em 21 Jul 1916, na pequena cidade mineira de João Ribeiro. Era filho de Antônio José da Cruz e de Maria da Conceição da Cruz. Geraldo Baêta era enfermeiro cirúrgico, pertencente ao Destacamento de Saúde. Tinha a nobre missão de amparar aqueles que tombavam na área de sacrifício, prestando-lhes o apoio médico imediato.
         Foram três vidas que, por um acaso do destino, se cruzaram no dia 22 Set 1944, a bordo do transporte Norte Americano "Gen. M.L. Meigs" rumo à distante Itália, onde já se encontrava o 1.º Escalão da Força Expedicionária Brasileira. Chegaram ao Porto de Nápoles, às 07:30 horas do dia 6 Out 1944, de onde partiram, no dia 9, para o Porto de Livorno. Três dias depois estavam desembarcando e seguindo para a chamada "Staging Area", localizado a oeste da cidade de Pisa (Vila Rosare). No dia 1.º de dezembro de 1944, o 11.º RIE entrava em linha, sendo considerado em combate.
          Lá estavam, três filhos do Brasil, três brasileiros simples, comuns, de vida sofrida e que estavam dispostos a tudo para o sacrifício maior, que ainda estava por vir.
         Foi então que chegou o dia 14 Abr 1945, dia do ataque a Montese, o combate que viria a ser, o mais sangrento que a FEB participaria. Dia inesquecível para muitos que ainda vivem. E lá estavam eles, Arlindo Lúcio, Geraldo Rodrigues e Geraldo Baêta. Três soldados do Brasil unidos pelo destino. Três glórias nacionais! TRÊS QUE PARECIAM CEM!
          Durante o ataque a Montese, o pelotão, ao qual faziam parte ARLINDO, GERALDO e BAÊTA, foi detido por violenta barragem de morteiros inimigos, enquanto uma metralhadora alemã hostilizava violentamente o seu flanco esquerdo, obrigando os atacantes a se manterem colados ao solo. Não tendo mais possibilidades de sair do local, nossos três heróis ficaram desgarrados de sua fração. Mas não temeram! Imediatamente, o Soldado ARLINDO, atirador de fuzil automático, localiza a resistência inimiga e num gesto de grande bravura, gesto esse de um menino acostumado a enfrentar as dificuldades da vida que levara até então, levanta-se, localiza a resistência inimiga e sobre ela despeja seis carregadores da sua arma, obrigando-a a calar-se.
          Geraldo e Baêta não param de atirar. Eram três pracinhas contra uma tropa de grande número. Tropa essa que pensava estar enfrentando uma outra de efetivo igual ou superior ao seu, pois os intrépidos brasileiros não paravam de atirar. Atiraram até a munição acabar. ARLINDO é ferido mortalmente por um franco atirador inimigo, enquanto GERALDO é atingido por um cruel estilhaço e BAÊTA recebe um tiro certeiro...
          De repente, o silêncio se fez presente...
          E sobre o solo lá estavam três corpos empunhando seus fuzis... Fuzis que estavam com as baionetas caladas, demonstrando que nossos heróis partiram para o assalto, mesmo sabendo que iam encontrar a morte breve...Morte que os fez descansarem da vida difícil e dura que sempre tiveram lá no Brasil...
          O comandante alemão, observando os três corpos já sem vida, reconheceu neles o sacrifício... Nunca vira tamanha demonstração de coragem! E, deixando seu orgulho prussiano de lado, mandou que seus homens cavassem três covas rasas e, pegando alguns pedaços de madeira, fez uma cruz e nela escreveu: " DREI BRASILIANISCHE HELDEN ", que em português quer dizer: "TRÊS HERÓIS BRASILEIROS".
          Após o ataque a Montese, na conferência do efetivo, o Pelotão dos três soldados imolados estava incompleto...Muitas baixas... Muitos feridos... Muitos desaparecidos... E entre esses desaparecidos estavam eles... enterrados pelo inimigo em três covas rasas...
           ARLINDO, em sua última carta que escreveu na véspera de sua morte, nos dizia que em breve ele estaria de regresso para rever o seu querido Brasil, pois sentia próxima a vitória das armas da justiça e da liberdade. Deus achou melhor chamá-los ao céu, nossa verdadeira Pátria, onde não há tristezas, onde a dor não pode entrar... 

         Apesar de não ter chegado a MONTESE, queremos dedicar algumas linhas desta seção ao "único pracinha que ficava alegre na guerra".
        Ordenou-se na Ordem Franciscana, em 1937, em Divinópolis - MG, tendo sido transferido para SJDRei, a fim de desempenhar a função de Diretor Espiritual do Colégio Santo Antônio e da Ordem Terceira de São Francisco.
        Em Mai 44, aceitando um convite do, então, Cmt 11.º RI, Cel DELMIRO, foi incluído no efetivo do Btl, no posto de 1.º Ten, por Decreto Presidencial. Na guerra ele sempre era visto pelos acantonamentos com duas "armas": uma gaita e um cachimbo.
        Tinha o costume de percorrer os alojamentos tocando gaita e exclamando: - A cobra vai fumar! A cobra vai fumar! Sua missão era a de consolar e alegrar os convocados, particularmente os doentes e, segundo os relatos da época, foi sempre muito bem cumprida, desde a preparação para a guerra até a sua morte.
        Na Itália, foi prestar seus serviços no 2.º Btl / 11.º RI e nas Cia Regimentais. Fato marcante de sua participação na guerra é que ele ia a qualquer lugar onde se encontrasse um necessitado pedindo por sua presença, além de suas visitas rotineiras a hospitais, cemitérios e até mesmo no campo de batalha. Em 20 Fev 45, na estrada de Bombiana quando tentava mais uma vez chegar aos feridos da linha frente um tiro acidental o feriu no peito e enquanto o motorista saiu para buscar socorro o militar sentava tentando rezar terço. Cinco minutos tarde... morreu. O nome dele? ANTÔNIO ALVARES SILVA. Como era conhecido? Cap FREI ORLANDO - Capelão Militar. Como se imortalizou? Pelo Dec. 20.680, 28 Fev 46 que conferiu a esse militar ÍMPAR o título de PATRONO DO SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA RELIGIOSA DO EXÉRCITO BRASILEIRO - SAREx. Talvez seja essa mais uma razão de ser o 11º BI Mth Regimento Tiradentes, o Regimento de São João, um Regimento sempre abençoado.
           Em sua homenagem a Capela de Nossa Sra de Fátima existente no interior do Batalhão levou o nome de Capela FREI ORLANDO.


        2.º Ten IPORAN NUNES DE OLIVEIRA é natural de Minas Gerais e foi classificado, como Asp-Of, no 11.º RI, no 3.º Pel, da 2.ª Cia Fzo, em Fev 44, sendo promovido em 08 Mai 44. A tenacidade, o ardor combativo e as qualidades morais e profissionais do Ten IPORAN são belos exemplos da FEB.
       Comandando seu Pel, destacou-se em MONTESE, que avançando com raro espírito ofensivo, infiltrou-se nas linhas inimigas, sendo os primeiros a penetrarem no objetivo, sob os fogos da Inf e Art do Ini, transpondo caminhos desenfiados, neutralizando campos minados, assegurando, posteriormente, para a Divisão Brasileira, a posse definitiva dessa importante posição alemã dentro do contexto da guerra.
         Pela intrepidez com que comandou seu Pel ao entrar em MONTESE, foi conde-corado com a medalha SILVER STAR (Estrela de Prata) dos EUA. Recebeu, ainda as medalhas de Campanha e de Guerra.
        Faleceu como Coronel Reformado. Em sua homenagem, a Área de Instrução do 11.º BIMth foi denominada Ten IPORAN.


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